março 30, 2011

"Habito o Mundo" na BMAG.


"Um pouco de possível, senão sufoco." Deleuze.




"O ver que não é só olhar exige a penetração, o desvendamento também do mundo da obra pela conversa capaz de estabelecer ligações de um entendimento que não silenciará o artista plástico, se bem que ele possa ser o que menos fale. Falar não é próprio do artista plástico, percebe-se há muito, mas poderá escrever, se a escrita fizer parte de um mesmo trabalho." Emerenciano.

março 23, 2011

Regresso.*

Regressas a casa, onde
regressas? A sombra espera
a tua sombra, um disco
ouvido no escuro. Regressas
a casa, mas tens a chave
e não a porta, ou o contrário,
ou a chave e a porta e mais nada.
*Pedro Mexia.

Domingo.*

Não há pessoas normais
mas se houvesse seriam
muito parecidas a estes
e estas colegas de liceu
ou faculdade que passeiam,
conjugais, aos domingos,
sem nunca terem visto
de perto o medo ou o céu
que não nos protege.
*Pedro Mexia.

março 12, 2011

março 06, 2011

Doidos e Amantes.

"Mas com os detalhes pode fazer alguma coisa. Só nos detalhes se progride. No todo não há qualquer sentido nas coisas.
(...)
As pessoas são chamadas por um conceito de felicidade que não corresponde à sua inclinação verdadeira.
(...)
O mistério é como uma fé extraviada em que se põe desejo de redenção e de castigo.
(...)
O que move alguém a uma resposta veemente, gloriosa no seu empenho, ordenada na sua tese, fulgurante na sua perspicácia, é uma pequena semente de ódio que vive em todos os homens e nem sempre germina em todos.
(...)
A frustração amorosa é uma reminiscência pré-histórica da frustração do poder.
(...)
A emotividade da alma humana faz com que o corpo seja alterado e faz com que possa influir magicamente em todas as coisas ao ser possuída dum grande excesso.
(...)
Tratava-se da estrutura do amor em si mesmo, da possibilidade de escapar à solidão. Não só o próximo pode ser conhecido, mas também compreendido.
(...)
Era inteligente, tinha o feitio prestável sem ser servil e sabia que mais vale jantar toda a vida com um milionário do que acalentar ambições próprias, fazendo minutas para comerciantes em falência.
(...)
O carácter de uma pessoa não é imutável. Ele sofre alterações nas diversas idades da vida; às vezes certos períodos bastam para fixar um comportamento oposto ao que até ali era tido por normal. Circulam no nosso organismo os genes dos antepassados que se vão apropriando dos seus direitos para se manifestarem e obterem a ressurreição que foi mencionada a partir do nascimento.
(...)
Um jornal é uma terapêutica da classe média. Cria uma proximidade com o sofrimento para exaltar a sensibilidade do leitor e dar ao princípio da vida forças novas e resistências redobradas. É um factor cultural.
(...)
As grandes epidemias criam um sentimento absurdo de renascimento. São períodos, os pestíferos, em que a criação do indivíduo se torna inseparável do sofrimento. Assistir aos doentes, correr de um lado para o outro da cidade, apertar nos braços os moribundos, travar relações com os vizinhos que dantes eram desconhecidos, tudo isso são processos de renascimento."
Agustina Bessa-Luís.

So Long, Lonesome.