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dezembro 27, 2011
dezembro 21, 2011
dezembro 18, 2011
Livros: Antonio Tabucchi.
"(...) O que eu pensei efectivamente foi que tudo era na realidade um enorme pequeno equívoco sem solução que a vida levava consigo, de agora em diante os papéis estavam distribuídos e era impossível deixar de os desempenhar; e até eu, que tinha vindo com o bloco na mão para tirar notas: o simples facto de os ver representar os seus papéis era também um papel, e nisso consistia a minha culpa; fazer o meu papel, porque a nada nos podemos furtar e todos somos culpados de qualquer coisa, cada um à sua maneira. (...)
(...)
E não foi fácil despedir-se dela com gentileza, dar-lhe a entender, suavemente mas com firmeza, que ela não a queria junto de si durante a noite, que queria entrar sozinha e ficar sozinha naquela enorme casa deserta, que lhe bastava a criada no caso de precisar de alguma coisa, que aquela era a primeira noite da sua solidão e que era sozinha que queria entrar na sua solidão. (...)
(...)
Às vezes, só no sonho é que uma solução se torna plausível. Talvez porque a razão é cobarde, porque não é capaz de preencher o vazio entre as coisas, de estabelecer a completude das coisas, que é uma forma de simplicidade, prefere uma complicação cheia de lacunas, e é então que a vontade confia a solução ao sonho. (...) Era um pouco filósofo, o Albert, todos os bons mecânicos o são, se calhar não acredita no que lhe digo, Monsieur, mas a estudar os automóveis aprendem-se tantas coisas, a vida é uma engrenagem, uma rodazinha aqui, uma bomba acolá, e depois há uma correia de transmissão que liga tudo e que transforma a energia em movimento, tal e qual como na vida, um dia ainda gostaria de perceber como funciona a correia de transmissão que liga todas as peças da minha vida, o conceito é o mesmo, precisaria apenas de abrir o cofre e ficar ali a observar o motor que ronca, ligar tudo entre si, todos os instantes, as pessoas, as coisas, dizer: isto é o espaço do motor, eram os meus dias de então, este é o Albert, foi o motorzinho de arranque, este era eu, os pistões com a câmara de explosão, e esta é a vela que dispara a centelha; e agora toca a subir, vamos embora. (...) Sabe, às vezes, quando se está com uns copitos, a realidade simplifica-se, salta-se por cima dos buracos que há entre as coisas, tudo parece ajustar-se e dizemos: aí está. Como nos sonhos."
In "Pequenos Equívocos Sem Importância",
Antonio Tabucchi.
dezembro 09, 2011
dezembro 04, 2011
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