"O impulso de querer saber da infância, o que é o sinal certo de amor.
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Na impunidade da lealdade da amizade. Matar um irmão diante do Amigo ou vice-versa, sabendo que ele não vai transformar o desabafo numa injúria. Ou denúncia.
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E eu não ia, sendo a repetição o princípio do prazer.
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A casa onde eu nasci ainda lá está no meio da aldeia que foi recauchutada. Quando passo por ela, ela não me conhece e eu faço o mesmo. Respeitamo-nos. Que é um modo de dizer que não há amor e o ódio ficará para mais tarde.
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Como aquela gente cantava e bailava nos intervalos do medo, da humilhação, do desamor, dos gritos, na Casa dos Gritos. Suponho que era a essência da prosa contra a afinal mansuetude da Poesia.
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A timidez perante a excelência do trabalho do outro é uma das bases desta empresa. (...) Na amizade é preciso traduzir. (...) Diz a Agustina que as pessoas que amam os cães são as mais egoístas sobre a terra. E ela gosta de cães. Porque os cães são uns mestres de zelar pelo que é teu, a família, os bens, as emoções profundas, mesmo quando tu te desleixas ou adoeces? Lobo da decência e da perseverança, o cão. Causa amante, contra toda a evidência, um cão.
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Esse gesto de abrir a porta do sagrado era para mim o de maior transgressão. E devia ser o que em mim mais se aproximava do espírito do sobrenatural que me faltava de todo. (...) Talvez eu quisesse abençoar a própria solidão que desde sempre foi a minha companhia absoluta. E assim, pudesse eu perdoar ao próprio Deus uma natureza que ele me atribuiu sem que me fosse dada qualquer satisfação."
Armando Silva Carvalho&Maria Velho da Costa.