dezembro 28, 2008

Ideal

Prometi-lhe tudo por cima da minha mentira.
Prometi que nada pode deter a verdade,
que nada pode enfraquecer a sintonia forte,
que nada pode erguer-se num espaço todo cheio de inteireza,
que nada pode calar o desejo de sermos mais do que ontem,
que nada pode deturpar as letras maiúsculas da religião sem templo,
que nada pode abater a imortalidade dos verticais,
que nada pode vender por menos aquilo que é plenitude solar,
que nada pode descolar o meu coração da tua biografia,
que nada pode calar a voz das evidências mais profundas,
que nada pode abafar o som da paixão que eu ouço quando te toco,
que nada pode afastar o lume da descoberta diária,
que nada pode abocanhar a carne transparente da cumplicidade,
que nada pode trocar as voltas a duas pessoas sem rota, errantes do nada,
que nada pode matar Deus se ele viver longe das pessoas, escondido debaixo da cama,
que nada pode afastar aqueles dias em que viajei nos teus sonhos e me fiz homem,
que nada pode tocar-te com maldade, és apática perante a inverdade geral,
que nada pode baixar o volume a duas pessoas sintonizadas na mesma estação,
que nada pode tornar o nosso diálogo um tópico de uma agenda semanal,
que nada pode criar barreiras a quem é maior do que portagens de inveja,
que nada pode limitar a força cósmica do nosso encontro, Céu às portas da vida.
Eu disse-lhe isto. Só não lhe disse que, à força de sonhar acordado, tenho preguiça de quebrar o ópio da fantasia.

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