Ontem passei pela lembrança de nós na esquina da minha saudade e doeu sentir as arestas daquilo que não se repete mais. Vou-te buscar às páginas que o tempo arrancou à minha história e elas não são mais o que foram, só se vive cada coisa de uma forma original. O primeiro olhar, o cheiro do apego que nasce do escuro da solidão - tudo isso acontece sem um guião, sem a certeza de que vai durar ou florescer. É um risco. O que fica depois da desilusão, quando olhamos para trás? Perplexidade misturada com desencanto? Hoje acredito que existe uma saudade menor, aquela onde caem em vão os planos que fizemos para os outros. A outra, a saudade do tamanho da imaginação do coração, é o sonho inicial onde não cabe a razão. Na febre do começo colocamos o significado dos actos antes de ver, queremos acreditar na possibilidade do encontro. Mas ele não existe sempre que o peito bate mais forte, os enganos nascem de não se pensar na espera da verdade mas em fazer dela o ponto de partida. Não é assim, não poderia ser. Mas fica qualquer coisa desse dia primeiro que a água dos factos cobre mas não esconde. E olho para trás quando penso em ti sabendo que o que lá está não é o que via, mas olho. Na vida arragamo-nos inexplicavelmente ao contrário do que dizemos. Fazemos coisas que a voz do pensamento censura, talvez pense em ti com a razão de ser, o coração. Mas enganei-me e sei disso. Não és já tu que embalo na evocação de tudo e custa mas é a verdade. Não há guiões para o acreditar mas há a experiência a colocar as coisas num sítio mais seguro, onde vale a pena continuar a apostar. Não podemos ganhar sempre. Coisas boas, pelo menos.
Há 10 meses
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