
Podemos viver sem nós, em piloto automático, diluídos numa massa espessa de "igualização" até que o fim se aproxime, oficialmente. Socialmente decretado. Há muito que caminhavas longe de ti, suor de incómoda tristeza a escorrer-te da alma e rias, chorando. Vendeste-te porque julgaste que o conforto vem da pertença a uma maioria, sem ponderação. Esqueceste-te para que os outros te lembrassem, reflexo mudo de uma ausência. Andar acompanhado não é andar perseguido. Andar com alguém é seres tu e essa pessoa ao mesmo tempo, é a diferença a procurar-se maior, mais nobre. Na vida és o teu projecto, és diálogo de sonho feito marcha de combate e nesse caminho vais descobrindo outros que se procuram também. Peregrinos de acreditar, crentes da vontade, amantes da construção. Diversos e plurais.
A riqueza vem do inesperado e espontâneo, partilha silenciosa da tua verdade. Não confundas por medo os conceitos, torna-te um artesão da luz que te fará sentir vivo e inteiro. Sermos vários num mesmo espaço tem que significar pluralidade, multiplicidade e nunca anexação, intrusão. Amar alguém que está ao nosso lado é aprender a gostar desse mundo novo, dessa notícia inteira aos nossos olhos. Abraçar-te sem preguiça de te conhecer, conversar contigo e não apenas falar, pelos meus olhos, das tuas coisas. Unir a vontade de ser em mim alguma coisa à tua determinação em marcares os dias por dentro. Dois pólos distintos, duas forças revigoradas pela partilha que afugenta a solidão de nós a nós mesmos. Dentro de mim só há espaço para o meu chão e para os meus passos. Quero ter consciência de que sou uno, vontade e realização, projecto e realidade.
Vivo sem pressa em antecipar o que tem o seu tempo, lá à frente. Não desço a fasquia para tornar os meus valores o mais lato de mim, buracos de condescendência aflita. Eu sou o meu reflexo e nunca a minha sombra, emprestada aos outros. Afirmo-me porque antes de tudo sou meu. E tu entendes, eu sei. Mais importante, cuidas de mim quando tropeço nos enganos desta vida. Respeitas-me em tudo e dás-me a tua verdade, quando chegas, para ficar. Eu sei, sinto-o a vibrar no silêncio da cumplicidade. E isso chega porque já é tudo. Só nós. Na massa do sangue de um pacto selado, por dentro.
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