Tento fazer da tua ausência o melhor possível. No branco espesso que fica depois de ti invento-te à medida do meu desespero, refaço-te com pedaços que a dor da saudade parte em mim. Invento-te para uma outra pessoa, aquela que eu seria contigo. Sonho ser o outro que tu farias de mim, aqui. Mas não estás e eu encravei nisto que é o vazio a preencher-se de ilusão.
Às vezes vivemos nos sonhos para suportar a vida sem essa magia que fica presa ao sonâmbulo acreditar da alma. Queria apanhar o atalho para o teu coração e ficar lá, dentro de ti. Se não mais te lembrasses do que fomos aqui não tinha mal. Estaria atado à tua indiferença, éramos um do outro, de outra forma. Continuava longe de ti mas o teu calor era a fogueira contra o arrepio das lágrimas e podia ver-te. Amar-te-ia em silêncio, contemplando a tua trajectória. Sem mim mas comigo na invisibilidade dos que amam o que perderam. Criava no teu coração o meu abrigo face ao longe da felicidade e era qualquer coisa menos física. Encontrar-te seria adormecer-me e fechar os olhos num doce-amargo, mistura de lembrança e de loucura, o gesso dos sonhos sem asas. Não me interessa que não me ames ou não me recordes, eu amo-nos pelos dois numa fixação doentia, febre maior do que eu.
Percebi que somos vários, um diferente em cada vida em que tocamos, vivemos várias histórias secretas no abraço que os sonhos dos outros proporcionam. Tu não sabes o que és para mim, aquilo que inventei para ti quando te puxava contra o meu corpo de memória. Sinto uma saudade imensa daquilo que ainda não veio porque tu não estás aqui para chamar o futuro para dentro de mim, perdi-me para a esperança. Estou dominado pelo esvaziamento da tua partida. Ainda sou teu, tu não sabes. E tu és minha, eu entreguei-me ao teu esquecimento e vivo lá. Mas tu não sabes.
Nem sempre o amor é comunicação, muitas vezes somos um estafeta de segredos num perpétuo movimento de emoções mudas, confessadas ao nosso próprio ouvido. Olha para mim, abraça o fantasma que sou para ti. Eu invento o resto.
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