abril 11, 2009

Die Verwandlung

"O lado quente da saudade"
Há rotas que a vida segue em piloto automático. A perda acaba por se insinuar, aos poucos, e deixamos de sentir aquela segurança própria da infância, quase ridícula de tão simples.
Tenho pensado nisso, em como há furos que nos marcam a face da vida e, claro, do acreditar. Há pessoas que são a nossa vida como se a nossa vitalidade viesse desse compromisso radical com a partilha. Qual é o lugar de Deus nesta história? Às vezes, tenho quase a certeza que fomos nós que O criámos. Outras, pergunto onde O deixámos. Sempre fica, no entanto, a imagem do Amor como o verdadeiro lugar da eternidade - lugar de princípio, de começo ou de origem.
Criámos Deus como que uma ficção que prolongasse o nosso Amor, quisemos provar que, no avesso do cenário, nos meandros da factualidade que dói, há algo que permanece incólume. Foi a vontade de desmaterializar o amor que nos levou a olhar para cima. Pusemos lá uma figura que, alimentada com a nossa fé, nunca se cansaria de contar os segredos que ficaram por trocar.
E como nunca dizemos adeus a essa parte de nós escolhemos um sítio para onde pudéssemos olhar, ao fim do dia, depois da vida lá fora - há um céu de saudade em cada um de nós que cresce. Ser adulto é ser menos por se ter tido mais, enquanto os que nos amam nos acolhiam no abraço físico que dissipava as dúvidas.
Mesmo que seja uma ficção, mesmo que seja só desespero, não interessa. O amor encontra os seus caminhos e, se o sentimos cá dentro, não julgaremos os defeitos do remédio. A derradeira questão é nunca dizer adeus mesmo que, para sobreviver, tenhamos de pedir a-Deus.


P.S. Há qualquer coisa de kafkiano na explicação de Deus. Mesmo que nos pareça um "absurdo" há mais qualquer coisa. Tenho pensado nisso e, só por isso, a minha realidade é já invadida pela ideia. Um dia destes vou olhar para cima. Não (só) por vontade mas por necessidade.

2 comentários:

Inês disse...

'Criámos Deus como que uma ficção que prolongasse o nosso Amor, quisemos provar que, no avesso do cenário, nos meandros da factualidade que dói, há algo que permanece incólume. Foi a vontade de desmaterializar o amor que nos levou a olhar para cima. Pusemos lá uma figura que, alimentada com a nossa fé, nunca se cansaria de contar os segredos que ficaram por trocar. '

Afinal, a tua maneira de ver (a) Deus não é assim tão diferente da minha... Be careful! Ahah :)
Gostei muito. Um beijinho

Ary disse...

André,

Não conhecia o blog e só por esse motivo não estava ele ainda no blogroll do blog da Sociedade de Debates, erro que é agora corrigido.
Abraço