setembro 15, 2009

Na minha rua


Bato à porta do tempo e não sei dizê-lo.
Parado ou agigantado buraco à cabeceira da vida.
Olho-o de fora para dentro, espectador lacrado,
os ponteiros giram sobre um fundo branco. Escuro.
São 3.35 da manhã, dizem-me. Não sei dizê-lo.

Tic-tac dentro da minha cabeça, o mundo não pára.
Enrolo-me de um semi-sono, vigília apertada,
pálpebras a susterem o grito das conclusões.
Tempo de ver, antever. Olhos maiores,
mundo que se estende ao meu lado, às 3.35.

Batem à porta, estava aberta, conscientemente.
Sempre, numa atenção feita escrúpulo. Agiganta-se,
o tempo a pairar sobre a minha face, perfilado.
Na parede, dançam silhuetas e aquele tic-tac lá.

Afinal somos nós, nesta estação de tempo seco,
embriagados de humanidade, à porta de casa.
O tempo bate, bate-nos. Tic-tac. É ele. Eu,
não sei dizê-lo, a mente desorbitada à cabeceira,
do mundo, das ruas onde nos encontramos, nós.

Não sei. Trago-vos presos ao relógio às 3.35.
Abre-se a porta, fecham-se os estores, é noite,
no escuro do quarto. E aí estão eles, vocês aí,
nessa parede, minha, pobres de vocês, pobres.

Bato a porta. Eles estão aqui comigo.
A cabeceira da vida é demasiado dura.
Eu não sei dizê-lo. Tic-tac, ali.
*Imagem retirada do blog ovozero.blogspot.com

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