novembro 19, 2009

Citando

"Fui a Alcácer por um homem a quem quero muito, num momento difícil da sua vida: acabavam de lhe arrancar mais um bocado da infância, de lhe substituírem a existência por memórias e quando nos mudam a cor à alma a gente sofre. Mesmo que a cor haja mudado com o tempo, embora todos os nossos tempos continuem connosco. Meu Deus, a pouco e pouco vamo-nos tornando sótãos onde o passado amarelece, a pouco e pouco os sótãos invadem a casa que somos, principiamos a mover-nos entre sombras truncadas de gente, emoções, memórias. Lentamente tiram-nos tudo, o presente afunila-se, o futuro uma parede. E nós, apesar de adultos, tão crianças ainda, assustados, perdidos juntando pedaços dispersos para nos reconstruirmos de novo, continuarmos. Na direcção de quê? Para onde? Quem nos espera ainda? (...)"
António Lobo Antunes

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