janeiro 09, 2010

"What do you mean?"

Nunca gostei da expressão "verdadeiros amigos." As qualidades moram no corpo quente dos substantivos, imperativos, capitais pela absoluta necessidade da sua permanência dentro da nossa casa. A expressão é viscosa e assume-se como permissão para a decadência, para que o adjectivo corrompa a essência de uma coisa que se basta a si mesma, nascida sob a bandeira da partilha. Basta-se a si porque enorme, não se admite que o adjectivo prevaleça, anteceda esse reduto de tudo. Num tempo em que tudo é volátil, nervoso, furo num horário que nos rouba a autodisponibilidade cumpre manter-se a exigência de verdade. Há coisas intransmissíveis, de cunho absolutamente pessoal que só chegam à boca das palavras quando o outro já as adivinhou na ternura morna da intimidade. Acredito em nomes intransitivos, ciosos da sua integridade como um reflexo das pessoas que os usam, como uma fiel emanação desse cordão mágico de sentidos que aproxima as pessoas para uma expressão conjunta, plural. As qualidades dessa relação exprimem-se na constância da mesma, transpiram dos actos, dos momentos que a agigantam. Há uma confiança nesse exercício de subjectividade que afasta o espectáculo do catálogo - "Ele é...; ela é..." - que só interessa quando a dúvida é do tamanho do nosso desinteresse pelo outro. Não quero isso. A pergunta, quando nasce, não é retórica, é confirmação e sentimento. Verdadeiro.

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