março 04, 2010

Livros

14.
"(...) Defendemo-nos, por outro lado, contra uma vaidade que, também aqui, desejaria elevar a sua voz: como se o homem tivesse sido o grande pensamento que esteve sempre por detrás da evolução animal. O homem não é de modo nenhum a coroa da criação: ao lado dele, cada ser se encontra com o mesmo grau de perfeição...E, ao pretender que assim é, vamos ainda demasiado longe: o homem é, relativamente, o mais falhado de todos os animais, o mais desajeitado, aquele que mais perigosamente se afastou para longe dos seus instintos - é verdade que, com tudo isso, ele é também o animal mais interessante!
15.
" (...) Desde que o conceito de «natureza» foi inventado como oposição ao conceito de «Deus», «natural» tornou-se o equivalente de «desprezível» - todo este mundo de ficções tem a sua raiz no ódio contra o natural ( - a realidade! - ), o ódio é a expressão do profundo incómodo causado pela realidade...Mas isto explica tudo. Quem é que tem razões para sair da realidade através duma mentira? Só aquele a quem a realidade faz sofrer. Mas sofrer, nesse caso, significa ser ele próprio uma realidade falhada... A preponderância do sentimento de pena sobre o sentimento de prazer é a causa desta religião, desta moral fictícia: um tal excesso fornece a fórmula para a decadência..."
16.
" (...) Um povo que ainda tem fé em si mesmo possui também um Deus que lhe é próprio. Venera nesse Deus as condições que o tornam vitorioso, as suas virtudes, projecta a sensação de prazer que a si próprio se causa, o sentimento de potência num ser a quem os pode agradecer. (...) Nestas condições, a religião é uma forma de reconhecimento. É-se agradecido para consigo próprio: é por isso que se precisa de Deus. (...)"

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