maio 20, 2010

Estudo [intervalo] Leituras.

"José Augusto não tinha alma bastante para distinguir a pobreza da mediocridade. (...) Uma boa parte do seu interesse pelas Owen talvez fosse devida ao requinte do home inglês, à pronunciada ambição de classe que vive a presumir outra que lhe é superior. Essas inglesas sempre um pouco acima da sua condição cultural e social, pareciam todas modeladas para uma forma mais ampla, a nurse para encaixar na lady, e esta para a dimensão de Sua Graciosa Majestade. Nada se adaptava exactamente à designação do small, tudo aspirava ao King size. E quantos equívocos nesse percurso para o ideal do império! (...) Contudo José Augusto não podia perceber isso. Também nunca entenderia a diferença entre a sensibilidade e a sua comédia.
(...)
As pessoas não se conformam em ser iludidas por elas mesmas, querem que os outros colaborem nessa ilusão.
(...)
A moral correspondia ao sacrifício da beleza, ou então a um estado estético que não se diferença do abandono do prazer. Mas o prazer, a sensação imediata, era importante para ele. Trazia-lhe uma espécie de reanimação de forças criadoras de que a infância estivera tão repleta. O prazer concedia-lhe confiança nos sentidos e predispunha-o para uma espécie de génio colaborante com a dignidade da vida. (...) Este conflito entre o prazer e a moral, entre a receptividade e a concentração, era e seria a grande encruzilhada da civilização.
(...)
Maria Owen era tida como muito capaz para prender um provinciano meio letrado e susceptível de se lisonjear na roda da colónia inglesa, tomando chá e falando de cães e de flores. Esse trato superficial e cultivado, que abolia a confissão, proporcionava-lhe uma segurança, uma espécie de adormecimento interior.
(...)
Ele sabia que para se falar de amor é preciso estar apaixonado, ou satisfeito de si mesmo, ou infeliz."

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