"Porque tenho a certeza de que tu és bom. É uma certeza grande, como saber que a terra gira, o sol nasce ou as estações do ano se sucedem. Tu és bom como as árvores são árvores e a chuva é chuva. Não é preciso reflectir sobre isso, porque também ninguém discorre sobre as evidências.
Viver é muito fácil, porque meço a partir de ti o norte e o sul. Basta que existas para que os meridianos se arrumem e os oceanos não transbordem. Estás sentado na cadeira-à-aviador e eu ando em volta, parto para mais perto ou mais longe, posso mesmo voltar-te as costas e partir noutra direcção, sei que não vou perder-me, porque tu estarás sempre sentado, a ler o jornal, ao fim da tarde. Todas as vezes que eu voltar a cabeça, ver-te-ei.
Um homem bom é uma luz na janela. As coisas ganham limite e solidez, brilho e cor, e eu caminho dançando por entre elas. É porque estou segura que ganho a liberdade de dançar, é porque não tenho medo que improviso, é porque ignoro a rotina que me entrego ao fulgor. A dança é isso, um modo mais intenso de existir. As árvores dançam, as folhas dançam, a chuva dança, os animais dançam, o sol e a lua dançam. Tudo o que há a fazer é deixar-se puxar para dentro do seu círculo, deixar-se sugar sem medo para dentro da órbita desmesurada das coisas. Então a vida começa a passar por nós e inclui-nos e nós baixamos a cabeça de dizemos «sim» e dançamos. (...)"
In A Árvore das Palavras, Teolinda Gersão.
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