dezembro 27, 2008

Para mais ninguém

Conseguiste dissolver com o teu abraço seguro a massa pesada do meu corpo, a sujidade da realidade e, mais importante, as horas. Naquele lugar eras só tu, foste tu que, num simples gesto, tornaste o Mundo mais pequeno, mais quente porque ajustado ao meu desconforto de mortal. Sem palavras consumiste-me todo, entraste em mim e arrumaste os escolhos, os fantasmas, aquilo que fica da passagem por aqui. Foste bússola, silêncio-Norte, foste amizade feita vontade, acção e entrega. Chegaste ao meu coração e juntaste cor à pele negra da minha alma, misturaste tudo até me veres levantar, querer regressar. Contigo. É isso, a amizade é um sítio de resgate, combate último contra as sombras individuais num dia de sol. Às vezes, o Mundo anda ao contrário de nós, ritual esquizofrénico, dualidade e antítese. Contigo sou sempre a metade que se descobre igual a uma outra, a invasão de ti em mim, a entrega silenciosa que me fazes é vida nova, libertação e aconchego. A tua voz feita gestos restitui-me a crença neste lugar tão frágil, tão impuro. Somos sem tempo, estamos aqui, imortais e imortalizados nesta imagem de emoções, ligação directa ao coração. És a escada de fuga, és ao mesmo tempo aniquilamento e esperança. E dás-te. A entrega maior das pessoas escapa às palavras, eu ouço-te sem elas porque é de encontro de almas que falamos, da imaterialidade do substancial, da invisível seiva da nossa pequena humanidade. Limpas-me as marcas depois da luta, destróis a dor, o medo e tornas a perda numa cristalização. Provas-me que todos os dias são dias de entrega, dias de Amor. Contigo, juntos, somos inteiros e desenraizados do áspero do espaço, do vazio do tempo. Aniquilamento e Infinito. Destruição e Ressurgimento porque fazes da desilusão a banda sonora do passado e despertas a fé no meu coração. Quero fazer coincidir a máscara sórdida do mundo com a transparente verdade da tua história, postura feita de luminosa honestidade. Queria sentir o cheiro do que é familiar e tu vieste. Em silêncio, abraçaste-me. Prometeste-me que ficavas. E das trevas fez-se Luz.
Ao meu irmão, sempre.

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