'Poeta antes dos versos,
Inteiramente nu e descoberto.'
Miguel Torga
A voz do mundo fala-nos sempre. Há coisas que ele nos explica com paciência de ancião experimentado. Andamos alheados dessa ligação telúrica à terra, ao começo das eras. As verdades são essencialmente as mesmas, o que muda é a estética das épocas. Quando o adjectivo ultrapassa o substantivo, quando a consequência troca com a premissa causal perdemos o jogo. Devemos olhar para as coisas, tocá-las, conhecê-las e respeitá-las. Quando soubermos o "ser" podemos atribuir-lhe palavras que são aproximações defeituosas a esse referente. Mas com cuidado pois facilmente "o que é" fica oculto num véu de ignorância, as palavras são mais fáceis do que a sabedoria. A estética deveria ser uma derivação humilde do substantivo, da realidade que precisamos compreender. Hoje fizemos das palavras um negócio com uma ligeireza de quem apanhou o comboio há pouco. Conhecer alguma coisa requer disponibilidade de tempo e a Economia manda transformá-lo em comércio. Esquecemo-nos, no entanto, que viver é ser em busca de qualquer coisa e que a paciência é um desengano antecipado.
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