"...o que o Tomás disse é capaz de ser o problema do nosso tempo: como comunicar com a transcendência?
O Tomás adiantou:
- Mas esse é o fundamento da religião...
-É. Mas uma religião é ainda uma cultura. Não podemos deslocar a religião dos limites e das atribulações de uma cultura. As religiões estão no processo da unidade...
- Então como é que tu comunicas com a transcendência? - perguntou o Tomaz.
- Para te dizer a verdade, infelizmente, não sei como comunicar com a transcendência. Sei é que me deram um Deus que era a fonte de todas as certezas e que agora, para mim, é o núcleo de todos os mistérios, de todos os enigmas e, por isso, de todas as minhas dúvidas e inquietações. Mas é possível que eu esteja ainda na tal via intelectual: a minha inteligência e a minha razão são ainda intrusos neste processo e o pior é que não me apetece nada ficar sem elas. Mas acho que há o êxtase: um desprendimento e um despojamento de nós porque nos encantámos com o mundo (...) e que isso nos leva a um irresistível enternecimento pela condição humana. Deve ser isso o êxtase, (...) o deixar sair de nós o melhor que temos e que nem julgávamos ter."
in "O Riso de Deus", António Alçada Baptista
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