As fotografias em cima da mesa. Abre-se o leque e estás lá. Dobras-te num rendilhado de lugares, horas, sons, cheiros para caberes inteira nesse movimento automático. Para lá e para cá. Repito a visita às imagens e descubro-me preso nos detalhes - há uma interpretação toda ela feita nessas linhas que expressam o que fomos, o que somos. Gosto delas, as fotos, a preto e branco mas nunca te disse o porquê. Gosto que as coisas durem. As fotografias assim tiradas oferecem-nos a fantasia da eternidade, de que um sorriso numa tarde de Verão pode fugir da noite como uma criança verdadeiramente livre foge do medo. A tua boca, os teus lábios sob o meu dedo apaixonado num talento imutável.
Quando os nomes se tornam tão pequenos para declarar as coisas que o nosso amor tocou. Quando o teu nome se liga irremediavelmente à minha vida que eu não sei partir para o mundo sem ser já cego para o facto de que houve um antes, de que há uma certa evidência de finitude e transitoriedade. Não é esse o lugar do Amor - ele continua a ondular em torno daquela velha árvore e a alimentar-se da seiva das palavras que são ponte entre duas linhas paralelas. Afinal, elas sempre se encontram sem plano. A máquina ao serviço da vida.
O amor torna a realidade ficção. Eu estou ali contigo, dentro desse casulo que é a fotografia que se abre para trás, sentimental afirmação da passagem do tempo."- Sabes, gosto das fotos a preto e branco." Gosto do sabor que o teu nome empresta à minha boca, à minha língua. A que te nomeia e que empurra os olhos para essa espiral de cor, intangível.
Clic. Há uma porta que separa dois mundos: aquele em que nos demoramos com as tonalidades de um céu reverberante e um outro que observa mais ou menos atento o que parece ser a nossa história. "- Sabes, os outros não usam a nossa linguagem, não são a nossa voz."
Quando me demoro com as imagens no colo ainda sou o mesmo daquele dia, o que quis guardar mais fundo todos os pormenores desse instantâneo que a máquina, rendida, encaixilha. Descubro-me nos detalhes desse sorriso imortal e sei o que fui para me tornar no que sou. Essa foto a preto e branco é um sinal e eu corro como uma criança no rasto do sonho, para dentro do horizonte. "- Sabes, a máquina fala de nós e não por nós, só nos lembra que há mais caminho cá dentro."
O que se encontra mais além, mais fundo. As cores da vida são o outro lado das imagens. Vamos lá.
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