outubro 01, 2009

Black&White

A preto e branco,
a imagem. Parece que nasce com uma fisionomia definida, estanque. Ao olhar para o mundo desfeito em pequenos fragmentos de memória visual parece-me mais romântica, mais suportável a ideia de que tudo perece, finda. - Ao ver-te no círculo do teu tempo aceito melhor e o incêndio da saudade não reclama maior indemnização à história. A preto e branco parecemos todos conciliados mercê da protecção cromática, quem sabe. É como se o teu sorriso de há 40 anos não se importasse nada de continuar lá, em 1969, e vivesse à roda dentro da moldura, satisfeito, contido. E eu? Os meus olhos nadam neste mar nublado de testemunhos virados para dentro e dói menos saber-te desse lado da estória e do tempo. Quem diria que a objectiva tinha ponteiros, hein? De qualquer forma, é melhor assim. Há uma vitalidade apaziguada nestas imagens e percebo-te mais resistente ao toque da curiosidade na ponta dos dedos, posso-te respirar sem medo de roubar a cor das horas passadas. A preto e branco, o teu rosto fica maior, os pormenores de uma beleza focada, numa fisionomia definida. Estas fotos são o melhor tempero para a saudade e tu sabias disso. Por isso sorris.

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