janeiro 31, 2010

«Elegia do Amor»*

Boca, som, palavras, [Onde só Deus pudesse, Ouvir-nos conversar?] promessas, sentimentos, mão, [Tu levavas, na mão] toque, erupção, olhos, [A música ideal, Do teu olhar primeiro] lágrimas, pele, cheiro, calor, boca, segredos, paz, alma, [Tudo, em volta de nós, Tinha um aspecto de alma] futuro, tu, voz de mim, eu, [triste, meditava, na vida, em Deus, em ti], cativo da tua vida, sonhos, sangue, suor, sofreguidão, renúncia, resgate, paixão, as palavras, uma mão, a tua boca, arrebatamento, solução, solidão a dois, medo, peito, grandeza de um deus, corpo de homem, o ideal de um sonho, [Hora santa e perfeita, Em que íamos, sozinhos, Mãos dadas a sonhar] a estrada de uma realidade [E, sob os nossos pés, A terra era saudade, E o pó melancolia], o toque impossível de uma antítese, alucinação, dor [Ouço-te em minha dor] tempo, história, promessas a mais, a mesma mão, as lágrimas de uma alegria desesperada, uma noite apolínea, tu, sempre, o meu medo de um amor, numa solidão possível, [Prende-me ao teu imenso, E livre coração, E ocupa todo o espaço, Vai povoar a minha solidão] brilho da vertigem, asas de um erotismo estóico, uma amizade profunda, um peito cheio, brisa de primavera, a canela nos teus dedos de eternidade, doce imagem, [Que à memória me traz, A luz do teu olhar] carne tenra de sonho vibrante, corpo de protecção, homem do mundo, [E eu regressei ao mundo] tu, tu, és, ser, autoestrada de um amanhecer a dois, sinuosos afectos, [E, assim, a minha alma, Igual à luz do dia, Derrama-se, no céu, Em ondas de ternura] tu és eu sem mim antes de ti, eu sou só amor, tudo, enumeração infinita, o tempo de uma vida, tantas vezes, a mesma boca, o mesmo olhar, arrepio que tudo recomeça, um infinito circular, [As tuas mãos sagradas, Nas águas do Infinito] pontuação sensível, mar de distâncias aparentes, [Ó meu longínquo amor] tensão, atenção, pormenores de eterna descoberta, pele de cores várias, novas, sentidos, caminhos, pela tua mão, [Teu corpo resplendente, Tua trança de luz, Teu gesto suave e lindo] pelos teus sonhos, pelas tuas dores, pela tua miséria mortal, eu, vivo mais e sempre, apaixonado pela ternura que te torna maior do que Deus por me mostrares o Seu caminho, [O meu amor por ti, Meu bem, minha saudade, Ampliou-se até Deus] verdade de sangue vital, dúvida de cantos suaves, [E paira a tua voz, No marulhar das águas] noites, dias, horas, de vida, de morte, de um infinito sem nome e sem terra, segredos na cal do teu rosto, lágrimas do teu tamanho, [Queimam meu coração, Tuas lágrimas salgadas] vertigem da sensualidade, minha, meu, possessivos de entrega, medos de aflição, não, não é isso, és só tu, do tamanho do tempo que não sei ter, grande como eu não me adivinhava ser, importante como só a tua boca me diz, [Falas comigo, sim] és tudo, sou por ti e em cada pedaço de ti, real, sonho, sexo, ideal, derivação, começo, fim e renascimento. [Sou neblina, sou ave Estrela, Azul sem fim Só porque, um dia, tu, Mulher misteriosa, Por acaso, talvez, Olhaste para mim] Tu és carrossel de fantasia neste mundo de vidas pequenas, há uma criança que cresce e ri, só amor, só isso, [E vejo, no meu quarto, O sol entrar, sorrindo] nos faz ser, inteiros, verticais ainda assustados mas vivendo, amando, certos de sentidos, cheios, unos e indivisíveis, manta retalhada de uma existência, ao luar, à chuva, à frente de tudo, todos, [Descubro-te, mulher, Na Natureza inteira] mas só tu, sempre, sempre, sempre, prometo, em segredo, querer, olhos, boca, alma, corpo, TUDO [...de ti me fala] és.
* versos de Teixeira de Pascoaes [1878-1952] , a negrito.

janeiro 29, 2010

Na noite do amanhã

Vejo a tua vida numa lateral do meu coração,
abrigo-te de um mundo onde não me sabes,
invento-me com o corpo da tua ausência,
és sangue de um sonho que move,
céu de um amanhã nocturno,
coração de papel na minha mão estendido.

Sei-te só como eu, os teus olhos são-me,
presos a um céu que há-de vir pelos braços,
coração de papel na minha mão, estendida, (tu).
Há-de ser pela espuma branca do teu sangue,
és um sonho que se move na massa apaixonada,
um homem desaba nos caminhos do (teu) corpo, desejo.

Vira-se. Hoje, noite de mansidão, vem fogo (que),
o papel queima-(o) para sobreviver, move-se,
uma lateral ao incêndio que veio com a noite,
Sei-te nua como eu, artesã de um amanhã
nativo em mim, branca como a paixão
ampliada no mundo sonhado que há-de vir, ao (teu) lado.

O saber-te para lá, dentro de uma caixa
sem fundo, abrigo de fantasia celestial,
minha mão na poesia do teu corpo de papel,
o meu fogo a povoar a sombra de um sonho,
centro de calor-amor, nocturna a vontade de
descer ao fundo da alma, ao teu lado.

Vejo, sei, sinto, no coração, centro de mim.
.................................que me (amas).

janeiro 28, 2010

Les Poupées Russes

"Não olhes para trás. Não olhes para a frente." (Olha para mim.)

janeiro 15, 2010

janeiro 14, 2010

janeiro 12, 2010

"Eu sou homem e nada do que é humano me é estranho."
Terêncio

janeiro 11, 2010

janeiro 09, 2010

"What do you mean?"

Nunca gostei da expressão "verdadeiros amigos." As qualidades moram no corpo quente dos substantivos, imperativos, capitais pela absoluta necessidade da sua permanência dentro da nossa casa. A expressão é viscosa e assume-se como permissão para a decadência, para que o adjectivo corrompa a essência de uma coisa que se basta a si mesma, nascida sob a bandeira da partilha. Basta-se a si porque enorme, não se admite que o adjectivo prevaleça, anteceda esse reduto de tudo. Num tempo em que tudo é volátil, nervoso, furo num horário que nos rouba a autodisponibilidade cumpre manter-se a exigência de verdade. Há coisas intransmissíveis, de cunho absolutamente pessoal que só chegam à boca das palavras quando o outro já as adivinhou na ternura morna da intimidade. Acredito em nomes intransitivos, ciosos da sua integridade como um reflexo das pessoas que os usam, como uma fiel emanação desse cordão mágico de sentidos que aproxima as pessoas para uma expressão conjunta, plural. As qualidades dessa relação exprimem-se na constância da mesma, transpiram dos actos, dos momentos que a agigantam. Há uma confiança nesse exercício de subjectividade que afasta o espectáculo do catálogo - "Ele é...; ela é..." - que só interessa quando a dúvida é do tamanho do nosso desinteresse pelo outro. Não quero isso. A pergunta, quando nasce, não é retórica, é confirmação e sentimento. Verdadeiro.

janeiro 06, 2010

janeiro 05, 2010

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O tempo de uma saudade, pretérito que se sentiu perfeito, fez-se à estrada e com a poeira imperfeita do mundo escreveu a história: "Quando tu vinhas." E nessa reviravolta das entranhas definiu-se uma imagem que é sempre uma troca apressada entre o medo do esquecimento e a fluidez do efémero. Simple present but not so simple. O português é mais indicativo, aponta com o dedo as feridas indefinidas de um tempo de um outro indivíduo. A ipsidade avoluma-se, ganha tensão, desmaia, quebra-se em duas personalidades nada perfeitas, complexas e convexas. Nasce, sem substancial paralelo, um "Se" sem pátria, corre, corre para trás num céu sem asas. "Já escreveste o teu nome no meu céu de estrelas cadentes?" pergunta-te, no meu português suave, o pó que cai sobre a gramática quase esquecida, trocada. "Quem?", isola-se no comprimento da frase o indivíduo ausente, o que me complementa directamente mas que se mostra indirecto na escrita translúcida. Foi-se. E era perfeito, antes. "Quando vieste, tu, a simple story about a perfect dream, ilusion, harsh present, the truth comes out." E nesta reviravolta julga-se o que foi pelo exagero dos dedos entrevados, impedidos. Pretérito-mais-que-perfeito, no doubt. As if. O tempo que se conclui desfeito, esventrado por sombras, desmaia, funde-se com a poeira dos astros. A comedian is a comma on a cloudy day. Ri-se dessa insatisfação ensimesmada mas à procura da porta que (se) abra (para trás) a frase inacabada, talvez o sinal do teu indicativo faça crer que o ontem de tudo isto era somente possível porque a começar. I find the falling stars inside your eyes. Dias, de dia escreves a ausência "In your apartment?" Apartamento mas de porta fechada e em português saudoso. A door is a full stop and a question mark é o tempo imperfeito - onde as palavras se perfilam numa imagem que ganha volume, nasce, sem firme paralelo, desmaia numa cama de "O quê?" Um homem situado, sitiado à procura do significado das marcas que arranham por dentro da pele. Evocação, renasce num paralelismo retrotenso, a Simple past, indeed. O tempo de que se sente saudade. That´s not a simple story and a comedian is only an actor.