fevereiro 27, 2010

O Espírito

8.
"Este envenenamento vai muito mais longe do que se pensa: encontrei o instinto teológico do orgulho em toda a parte onde hoje alguém se sente «idealista», em toda a parte onde, graças a uma origem mais alta, alguém se arroga o direito de olhar de cima a realidade, como se ela nos fosse estranha... O idealista, tal como o padre, tem todas as grandes ideias na mão (e não só na mão!) e brinca com elas desdenhosamente contra a «razão», os «sentidos», as «honras», o «bem-estar», a «ciência»; sente-se acima de tudo isso como se tudo isso mais não fosse do que forças perniciosas e sedutoras, por cima das quais o «espírito» plana numa pura reclusão: como se a humildade, a castidade, a pobreza, numa palavra, a santidade, não tivessem feito até ao presente muito mais mal à vida do que todas as coisas pavorosas, do que todos os vícios, quaisquer que eles sejam... O puro espírito é mentira. Enquanto o padre continuar a passar por ser uma espécie superior - o padre, esse negador, esse caluniador, esse envenenador da vida, por profissão - não há resposta para a pergunta: que é a verdade? (...)"
In: O Anti-Cristo, F. Nietzsche

Sem comentários: