Há 10 meses
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setembro 18, 2010
Livros
"Creio mesmo que a saudade é amargor de paragem, não de distância. E isso me bateu ontem, de novo, cada vez mais certamente, no cais de Alcântara com as gaivotas adormentadas como pequenos patos, quietas no baloiço das águas, que reles somos quando não temos para onde ir. Que reles é a nossa lucidez de palradores serviçais quando nos não toma mais o silêncio da demanda do novo.
(...)
Pois que é a paixão senão uma forma de provar o medo, a permanente descrença do lugar e tempo que somos? Por isso a paixão tardia é mortal, pois que não resta tempo para reconhecer-se um futuro depois dela. Reconhecer os rostos dos que cuidávamos prezar, reconhecer a marca do amor na coisa futura que queremos."
in Maina Mendes, Maria Velho da Costa
setembro 17, 2010
setembro 04, 2010
MM.
"Humanal pretensão esta de bem amar-te mortalmente, minha senhora esposa, nem esposa, nem senhora. Mas o suposto nunca é o consentido. Eis a noite e o troar do mar e a branca estira da portada entreaberta, eis a insónia a teu lado.
(...)
Creio que sou já na idade em que nos repetimos. Não, não é bem isso que quereria dizer. Não é ainda a consolada litania dos momentos idos, o comprazimento no anedótico, a caquexia de alma
do que se agarra a destroços e os reconta com a candura absurda da novidade e que torna os velhos enfadonhos, repelentes como uma supuração que não sara, ou insólitos se encontrados pela primeira vez num banco de jardim. É antes o começo da forma envelhecida da esperança, provar com insistência que se foi, que se soube, que junto de nós foi, que não passámos em vão, que estávamos onde foi o terramoto, a morte do parente, a beleza sem turismo de uma enseada, os vidros listrados de papel das janelas ameaçadas, guardadores do instante, testemunhas.
Não, não creia que é a melancolia do declínio, ou o tão simples quanto a si temor da morte. Há apenas conjuras, eixos fixos, uma trama melódica peculiar a cada um de nós e parece-me haver chegado o tempo de conhecer a que me cabe."
setembro 03, 2010
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