Em memória do meu tio-avô,
Arnaldo Mesquita.
Acabas de chegar. Está muito frio:
poucos amigos e alguns parentes
vão falando em surdina e entredentes
de quem já não existe - era teu tio
e tinha a vida presa por um fio
que se quebrou enfim. Tudo o que sentes,
para lá das conversas inocentes,
é a alma a gelar no arrepio
da infância a despedir-se enquanto chora
pessoas e lugares que cada hora
dentro de ti transforma em nevoeiro.
À saída descobres, absorto,
que também tu começas a estar morto
na fria madrugada de fevereiro.
*Fernando Pinto do Amaral.
Sem comentários:
Enviar um comentário