agosto 21, 2011

Velório de Inverno*

Em memória do meu tio-avô,
 Arnaldo Mesquita.
Acabas de chegar. Está muito frio:
poucos amigos e alguns parentes
vão falando em surdina e entredentes
de quem já não existe - era teu tio

e tinha a vida presa por um fio
que se quebrou enfim. Tudo o que sentes,
para lá das conversas inocentes,
é a alma a gelar no arrepio

da infância a despedir-se enquanto chora
pessoas e lugares que cada hora
dentro de ti transforma em nevoeiro.

À saída descobres, absorto,
que também tu começas a estar morto
na fria madrugada de fevereiro.
*Fernando Pinto do Amaral.

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