dezembro 31, 2009

Pré-Exames

"We shall not cease from exploration, and the end of all our exploring will be to arrive where we started and know the place for the first time."
T.S. Eliot

Conclusão

No jardim das virtudes vive(-se como) um 'homem-estátua'. A olhar para a outra margem.

dezembro 23, 2009

12.05.2009

1. "Nenhum argumento vence o preconceito."

2. "O fim. Que amanhã não seja a véspera desse dia."

3. "Não tenho opiniões, só tenho princípios."

4. "A Fé é um dom e não uma qualidade."

Paulo Teixeira Pinto

"O meu amigo Paul Éluard faleceu."

'É-me muito difícil escrever sobre Paul Éluard. Continuarei a vê-lo vivo a meu lado, acesa nos seus olhos a eléctrica profundidade azul que contemplava tão amplamente e de tão longe.
Esse homem sereno era uma torre florida da França. Brotava do solo em que louros e raízes entretecem as suas fragrantes heranças. A sua estatura era feita de água e pedra, e nela se alongavam antigas trepadeiras portadoras de flor e fulgor, de ninhos e cânticos transparentes.
Transparência, é esse o termo. A sua poesia era cristal de pedra, água imobilizada na sua corrente constante.
Poeta do amor zenital, fogueira pura do meio-dia, nos dias desastrosos da pátria colocou no meio dela o seu coração e dele irrompeu fogo decisivo para as batalhas.
Assim chegou naturalmente às fileiras do Partido. Para Éluard, ser comunista equivalia a confirmar com a sua poesia e a sua vida os valores da humanidade e do humanismo.
Não se pense que Éluard foi menos político do que poeta. Assombrou-me frequentemente com a sua clara vidência e impressionante razão política. Examinámos juntos muitas coisas, homens e problemas do nosso tempo, e a sua lucidez serviu-me para sempre.
Não se perdeu no irracionalismo surrealista porque não foi um imitador, mas um criador, e disparou sobre o cadáver do surrealismo tiros de clareza e inteligência.
Foi meu amigo de cada dia e perdeu a sua ternura que era parte do meu pão. Já ninguém me poderá levar o que ele leva, porque a sua activa fraternidade era um dos preciosos luxos da minha vida.
Sustentava com a sua coluna azul as forças da paz e da alegria. Morreu com as mãos floridas, soldado da paz, poeta do seu povo.
Torre da França, meu irmão!
Inclino-me sobre os teus olhos fechados que continuarão a oferecer-me a luz e a grandeza, a simplicidade e a rectidão, a bondade e a singeleza que implantaste na Terra.'
[Na morte de Paul Éluard, 1952.]
In: "Nasci para Nascer", Pablo Neruda

dezembro 19, 2009

Introdução

A um menino que dança sem saber andar ainda, o mundo troca-lhe os passos e chama a isso "crescer". Ele, embrião de tudo, descobre-se a sentir o que os outros, os que já só marcham numa dança trocada, dizem ser medo. Assim se aprende a denominar. (sem dominar)

dezembro 16, 2009

Sentença

O peso das palavras por dizer equivale a um defeito de origem, calamo-nos com um desejo amargo de ter feito da linguagem uma ampliação das nossas entranhas - e então a opressão veste-se, caminhamos supostamente inanes num corredor abatido, dobrado como um dicionário encardido se cobre de tempo perdido. Há aqui uma exegese enganadora, o nosso silêncio é um atropelo de palavras, entre a garganta das intenções e a língua dos actos, exteriorizados. Somos desejo com um objecto roubado, vivemos a olhar esses muros como um lugar a que a dúvida aguça o brilho. (promessa verbal, conjunto de sons articulados que têm um sentido) Teria feito a diferença? Coleccionamos um discurso a posteriori e esses sinais que nomeiam fazem do referente terreno de sonho. Recalcamento.

'LISBOA que amanhece'

'LISBOA que amanhece'

'LISBOA que amanhece'

'LISBOA que amanhece'

'LISBOA que amanhece'

'LISBOA que amanhece'

Beatriz

dezembro 15, 2009

dezembro 11, 2009

Thunder Perfect Mind


'Irene ou o Contrato Social'

"O prazer de fazer mal porque faz doer, o simples prazer de dor num pontapé num gato, queimar um pau numa carne, cegar um pássaro nos dois olhos com um fósforo, porque sim. (...) Nunca gozara da dor pensada para causar gozo. Sendo objecto disso, desse mal, do mal, nunca usara disso a frio, excepto pela retracção. E o mal também pode ser isso. Deixar, sem saber deles, a crueldade, o mal acontecerem.
(...)
A vigília súbita, indício do pavor de estar a regressar a uma diversidade do ter sido, do vir a ser? A paisagística de um ter sido, de um devir? Esses estuários, ravinas, moradas, à vez reconhecidos e ignotos como os de um anjo? Sonham os cegos, como que vêem noutras partes?
Se o sonho é só a realização de um desejo, como os seus lugares são tenazes, são fugazes. Já estive aqui.
Esse aqui, ao esfumar-se, despedia cada objecto da vigília, do regresso ao mesmo mesmo.
(...)
A casa agora podia cair no mais medonho dos desleixos, no mais carregado dos silêncios com vozes. (...) Como saber se o desleixo é um sintoma mórbido, ou o sinal de uma vocação transida de despojamento?
(...)
Eu, que tanto fui lendo, por que não poetizo? Por que é que Irene não quer contar? Se até o queixume se modula. Em vez, ouve ofensas, lacera-se com o mal vivido, como se deixar-se deteriorar sem azedume fosse uma vingança. Não era. A única vingança é estar bem, dissera-lhe António Aurélio, diz na sua cabeça pendente no livro que não lê, que ela não tinha a coragem do quotidiano.
(...)
A memória só faz rasgões e lendas. Quando o explicado é da ordem do vento, só resta ao explicador o gozo de penetrar o ar. Coisa pouca. The air, the air is everywhere."

Livros

"Às vezes percorro a casa. É uma casa que se está bem sozinha. Sempre pensei. É quando tudo acabar e se calar. Com as coisas. E ela que sempre gostou tanto de coisas. São as que a castigam mais, as coisas. As de sorrir e as de recuar pelos golpes que relançam.
(...)
A vida dá muita volta. Não: dá apenas uma volta inteira, às vezes truncada. Pescada de rabo na boca, serpentina. Todas as coisas que lhe aconteceram, e eram poucas, eram repetições de remotas.
(...)
Ainda hoje tendo a pensar como Irene que a bruteza, com a sua carga de suspeição e inveja é toda a maldade que há, é a madre da maldade. (...) O que significa que também o abandono, ou o que é percebido como desamor, seja fonte do mal. Isto, que é banal, na tortuosidade do coração tenro não se sabe até se saber. E sabê-lo não é desconsegui-lo, nem desrepeti-lo de vez. Continuo a encolher-me de quem me escraviza e a ter raiva a quem me deixa só.
(...)
Orlando olha. Não o move o tédio, mas o princípio da indeterminação - não sabe para onde tem que ir e tem vergonha do princípio de indeterminação. On the road? Oh que não, Live fast die young? Inda menos."
In: Irene ou o Contrato Social, Maria Velho da Costa

dezembro 10, 2009

dezembro 09, 2009